terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O texto que faltou...

Três e trinta da tarde, ombros com ombros no espaço exíguo, o frio da rua contrasta com o calor sentido dentro da reduzida cúpula, o pequeno motor ganha vida, cintos apertado, canopy fechada, combustível aberto, instrumentos acertados, no rádio ouve-se: “Leiria boa tarde, Chalie Sierra Uniform November Golf a rolar para a posição de espera da pista zero dois”.
A temperatura do óleo e da água sobem solidárias com a adrenalina no corpo, o barulho do motor torna-se mais intenso à medida que são efectuadas as verificações dos magnetos. O frio da rua teima em não entrar.
Já na cabeceira da pista: “Leiria, Chalie Sierra Uniform November Golf a descolar da pista zero dois”, o motor mostra o folgo que tem enquanto puxa o avião pela pista. Progressivamente a sustentação passa das rodas para as asas e quase sem dar por ela estamos no ar – estamos a voar!
Rumo à Batalha, o IC2 como guia e o Mosteiro como confirmação, à direita em São Jorge direcção a Aljubarrota, as várias fábricas de tijolo e os terrenos de extracção de barro servem de ponto que unimos quais jogo de crianças no papel. À nossa frente Alcobaça, uma volta ao estádio e partimos rumo à Serra. Os ouvidos estalam enquanto ganhamos altitude, passamos pelo Serro Ventoso, as diferente alturas dos montes impõem focagens constantes como que jogos de ilusões. O vale abre-se revelando Porto de Mós à nossa frente, seguimos o leito do rio Lena e rapidamente regressamos à Cidade do Liz.
“Leiria, Chalie Sierra Uniform November Golf, mil e quinhentos pés à vertical da cidade a descer para integrar o circuito”
Uma passagem baixa pela pista.
Reporte no Vento-de-cauda, procedimentos de aterragem: velocidade no 70kt, flaps posição 1, bomba de combustível on, luz de aterragem on, os comandos tornam-se menos efectivos obrigando a uma maior amplitude de movimentos… Flaps posição 2, velocidade 60kt… Flaps posição 3, velocidade 55…50… motor idle… 45…
A um palmo do chão esperamos que a velocidade dissipe e passe a sustentação das asas para as rodas que tocam o chão com um ligeiro gemido de quem preferia ter ficado lá em cima… Como nós…

3 comentários:

  1. E dizias Tu,o Piloto, que devia ter escrito um textozito! Mal sabia Eu que tinha passado por esses sítios todos, como não percebi praticamente nada das transmissões efectuadas, bem como relatar a descrição dos instrumentos de aviação não seria também o meu forte...acho que no meu caso, "Uma imagem vale mais que mil palavras!" Assim como devo referir, que ainda bem que deixei essa parte, do textozinho para quem sabe, não fosse eu mandar algumas calinadas pelo "caminho"!

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  2. Excelente texto!Parabéns! ;) Afinal há mais poetas (a escrever prosa)! :p

    PS.: O código não acabava em Hotel?!

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  3. Rosa
    Estou certo que o voo relatado por ti seria muito interessante, certamente não seria tão objectivo, mas teria uma visão bem mais "inocente e virgem" e muito mais focada nas sensações sentidas do que em pormenores técnicos. (isto é uma dica para escreveres na mesma)

    TG
    Depende da matrícula do avião. Neste caso era CS-UNG (Carlie Sierra Uniform November Golf), mas tb temos o CS-UNH (hotel), o CS-AYV (... alfa yankee victor), o CS-AOT (alfa oscar tango) e o CS-AQN (alfa quebec november).

    Nota:
    "CS-" significa que a matrícula é portuguesa
    "U" Ultraleve
    "A" aviação ligeira
    as últimas 2 letras é que são efectivamente a matrícula do avião.

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